
Não existe investimento sem risco
Você não deixa de investir porque é arriscado — e sim porque não entende qual risco está correndo.
Não importa que você tenha calafrios só de ouvir a palavra “risco”. Ele sempre vai estar presente em nossas vidas, das pequenas escolhas diárias até as decisões mais importantes.
Ao dirigir enquanto responde mensagens no celular você está correndo o risco de se envolver em um acidente. Suas férias na praia podem cair em uma semana chuvosa. Você pode não gostar do prato novo que quis experimentar no seu restaurante favorito. E o negócio próprio com o qual você tanto sonhava pode acabar não dando tão certo quanto nos seus planos.
Mudar de emprego, se casar, ter filhos… há risco em tudo!
Não adianta falar sobre o risco como algo que podemos evitar. Convivemos com ele todos os dias, a todo momento.
Talvez por isso o risco, nas situações do dia a dia, não nos paralise.
Fomos criados sabendo que eles existem, aprendemos a controlá-los ou reduzi-los e, por isso, conseguimos conviver com eles naturalmente.
Afinal, não podemos deixar de viver apenas por medo do que (talvez) possa acontecer, certo?
Então por que você age diferente quando o risco é relacionado a seus investimentos?
O verdadeiro risco é não saber o que está fazendo
O problema não é o risco em si, e sim a falta de conhecimento sobre ele.
Ao contrário dos exemplos acima, você não foi criado em um ambiente onde era normal falar sobre dinheiro e investimentos na mesa de jantar. Muito pelo contrário.
Você cresceu ouvindo seus pais falarem sobre inflação de 2 dígitos, confisco de poupança e que o único bom investimento era em imóveis.
Se não ouviu, viveu essa época.
Para nós, brasileiros, falar sobre “investimento financeiro” e “educação financeira” é algo novo. Não somos ensinados pela escola e nem por nossos pais.
Ou você aprende por conta própria ou continua um analfabeto financeiro.
Por isso você acha arriscado investir em uma empresa listada na bolsa de valores, mas convive naturalmente com o risco de abrir um negócio próprio.
Não se sente confortável em investir em um título do governo atrelado à inflação com prazo de 15 anos (afinal, quem sabe o que vai acontecer amanhã?), mas não vê problema em assumir um financiamento de 30 anos.
Passa uma vida toda falando que o Brasil não tem solução, mas continua com todo seu patrimônio investido por aqui…
Eu te pergunto, isso faz algum sentido pra você? Para mim, nenhum.
São crenças como essa que me fazem acreditar que o que falta não é mais tolerância ao risco, mas sim desenvolver um conhecimento maior sobre ele.
Quanto mais conhecemos e entendemos o risco presente em cada situação - e em cada investimento - menos medo sentimos e, consequentemente, mais disposto estamos a conviver com ele.
Os principais riscos na hora de investir
A verdade é que não existe investimento sem risco.
Todo investimento - como tudo na vida - tem uma incerteza, e também uma recompensa.
Para conseguir resultados melhores nos seus investimentos você precisa conhecer esses riscos, aprender a equilibrá-los e escolher quais você está disposto a correr, em que momento e em qual proporção.
💸 Risco de crédito
Sabe quando você empresta dinheiro para um amigo e ele nunca mais te devolve? Esse é o risco de crédito.
No mercado financeiro você também empresta dinheiro.
Quando você investe no tesouro direto, está emprestando para o governo. Em CDBs, LCIs e LCAs, empresta para um banco. Em CRAs, CRIs e Debêntures, para empresas privadas.
Tudo isso é crédito. E quando há crédito, há risco de calote.
Portanto, sinto te informar, mas seu maior medo nos investimentos (de não receber de volta o que você investiu) está presente justamente nos investimentos que você considera mais conservadores: os títulos de renda fixa.
Para tentar evitar o risco de crédito você deve escolher bem para quem, e em quais condições vai emprestar seu dinheiro.
Em termos técnicos, deve se atentar ao emissor, o prazo, a taxa e as garantias/proteções do título.
Aposto que você prefere emprestar para aquele amigo de confiança do que para aquele que sempre atrasa ou tem um histórico de dar calote em todo mundo (mesmo que ele prometa um retorno maior).
📊 Risco de mercado
Esse é, na minha opinião, o risco mais incompreendido de todos.
Na prática, ele ocorre quando você compra uma ação na bolsa de valores e depois vende por um preço mais baixo. Isso acontece com mais frequência do que deveria e, talvez por isso, tanta gente tenha medo do risco de mercado.
Mas, na maioria das vezes, ele se concretiza por um erro do próprio investidor que, por desconhecimento ou falta de planejamento e acompanhamento profissional, age por impulso e sai do investimento no momento errado.
Afinal, o risco de mercado é apenas a “variação natural de preços" ou, como chamamos no mercado financeiro: volatilidade.
A bolsa oscila, os juros sobem e descem, as empresas mudam, notícias bombardeiam os jornais diariamente… e tudo isso faz o valor dos seus investimentos oscilar.
E não acontece apenas em ações, como no exemplo acima. O risco de mercado está presente também em fundos imobiliários, ETFs, fundos multimercado, moedas e até em títulos de renda fixa que sofrem “marcação a mercado”.
O que muita gente parece esquecer é que essa “oscilação” (que chamam de risco) é também o que cria oportunidades. Afinal, sem variação, não há retorno.
Ao contrário do risco de crédito, você não consegue evitar o risco de mercado.
O ideal é que apenas seus investimentos de longo prazo - ou parte dele - estejam nesse tipo de investimento.
Isso vai evitar que você entre em desespero e aja por impulso quando ver os preços subindo e descendo diariamente (principalmente descendo). Além disso, haverá tempo suficiente para que seus investimentos se recuperem caso o mercado passe por um período conturbado.
O segredo aqui está em saber “dosar” a quantidade certa de “risco” para cada pessoa, objetivo e momento de mercado.
🏠 Risco de liquidez
Com certeza, você conhece alguém que ficou anos com um imóvel anunciado sem conseguir vender. Isso representa o risco de liquidez.
É o risco de você precisar do dinheiro e descobrir que ele não vai voltar para você no momento que você deseja — ou pelo menos não totalmente.
Em outras palavras, é a “dificuldade” de transformar um ativo/investimento em dinheiro.
Muito comum no investimento em imóveis, mas presente também nos investimentos financeiros.
Um título de renda fixa de longo prazo ou com carência, um investimento que se tornou um mal negócio e ninguém quer comprar de você, um fundo pouco negociado…
O risco de liquidez é cruel: já vi muitos casos de famílias com um patrimônio multi-milionário, mas totalmente imobilizado. Acabaram obrigados a se desfazer de imóveis por preços muito abaixo do valor de mercado porque precisavam de dinheiro “vivo”.
Não ter liquidez gera problemas, dor de cabeça e prejuízo - além da sensação horrível de ter patrimônio, mas não conseguir aproveitá-lo.
Então por que pode ser um bom negócio expor parte do seu patrimônio a esse risco?
Porque, como todos os outros riscos, há o lado da oportunidade: você troca a liquidez por rentabilidade.
▶️ Outros riscos que vale a pena conhecer
Além desses, há outros riscos que são ainda menos considerados, mas nem por isso menos importantes.
O mais ignorado é o risco de inflação, que atua como um inimigo silencioso.
Quando você investe não importa apenas o quanto você ganha, e sim o quanto o seu dinheiro continua valendo.
Não adianta nada, por exemplo, ganhar 8% ao ano, se a inflação for de 10% no mesmo período. Você deve considerar a rentabilidade acima da inflação. O que chamamos de “juro real”.
É aqui que mora o grande inimigo de quem gosta de deixar o dinheiro “parado”. A inflação vai corroer seu poder de compra.
Há também o risco de reinvestimento.
Imagine que você investe em um CDB que pagava 15% ao ano e ele vence. Agora os juros caíram e você só consegue reinvestir a uma taxa de 9%. Você vai precisar reinvestir a um rendimento menor. Você não vai perder dinheiro, mas pode ganhar menos do que antes.
Por fim, o risco operacional — falhas de sistema, ordens executadas de forma incorreta ou simples erros humanos podem causar prejuízos relevantes.
O maior risco é não correr risco nenhum
Como falei no início deste artigo, ninguém deixa de investir porque é arriscado. Apenas porque não entende os riscos que está correndo.
Se apenas a presença do “risco” fosse o problema, você não faria uma viagem de avião, pegaria a estrada com chuva, se casaria, mudaria de emprego ou abriria um negócio próprio.
O risco não é nosso inimigo. Precisamos apenas conhecê-lo e aprender a conviver com ele. E, quando possível, usá-lo a nosso favor.
Digo isso porque o mesmo risco que você tenta evitar pode ser justamente o elemento que falta para que você tenha resultados melhores — tanto nos investimentos quanto na sua vida.
Quando entender isso, vai perceber que o que é mesmo arriscado é não correr risco nenhum.
Gustavo Gubert, CFP®
Planejador Financeiro e Consultor de Investimentos




