
Imagine a seguinte cena:
Você liga a TV e vê a manchete no jornal: “Bolsa em alta histórica!”.
Os gurus do Instagram só falam sobre isso, colegas de trabalho contando sobre os exorbitantes lucros que tiveram, até o motorista de aplicativo comentando que começou a “brincar” com ações.
É como se todos estivessem em uma festa animada - e você ficou de fora, sem convite. Um pensamento te assombra: “Se eu não entrar agora, vou ficar para trás”.
E então você compra.
Semanas depois, a música muda.
As manchetes agora são sobre quedas, crise política, risco fiscal, “bolhas” e inflação. Os mesmos que contavam vantagem agora estão em silêncio, ou pior: estão em pânico.
Você olha para os seus investimentos despencando. A dor de ver números vermelhos na tela é insuportável. Então você decide vender para “estancar a sangria”.
Você comprou na alta e vendeu na baixa. De novo…
Eu sei que saber disso não te trás conforto (e nem seu dinheiro de volta), mas você não está sozinho.
Esse é o ciclo clássico da maioria dos investidores. Comprar no entusiasmo, vender no desespero. Comprar caro, vender barato.
Soa irracional, certo? E é exatamente isso.
A lógica do mercado é simples e, de certa forma, cruel: o dinheiro se move daqueles que não têm disciplina para aqueles que têm.
Para ganhar dinheiro nos investimentos você precisa agir contra o seu instinto natural.
O comportamento natural - seguir a manada, ouvir as manchetes, reagir ao seu instinto - é justamente o que te leva a decisões ruins.
Em 10 anos como consultor de investimentos e planejador financeiro, notei que grande parte das pessoas que rotula o investimento em renda variável como um mau investimento tem essa convicção porque já cometeu esse erro antes.
Mas por que agimos assim?
A resposta está em nós mesmos.
Nosso cérebro foi programado para a sobrevivência, não para investir.
Milhares de anos atrás, uma reação rápida ao perigo era o que nos mantinha vivos.
Se todos do grupo saíam correndo porque ouviram um barulho no mato, você corria também. Não importava se era um tigre ou apenas o vento — o custo do erro era a vida.
No mercado financeiro, esse mesmo instinto aparece. É o chamado efeito manada.
Quando todos estão correndo para comprar, sentimos que também devemos correr. Quando todos estão vendendo, queremos fazer o mesmo.
O problema é que seguir a manada quase sempre custa caro.
O caminho para o lucro está justamente em inverter essa lógica: comprar quando os outros estão desesperados, vender quando estão eufóricos.
Parece simples no papel, mas na prática gera desconforto. É um exercício de disciplina.
Preço baixo não é qualquer coisa
Veja, não estou dizendo que você deva sair comprando qualquer coisa que caiu. Há uma enorme diferença entre “investimento barato” e “investimento ruim”.
O que estou dizendo é que o investidor que se guia apenas pela emoção inevitavelmente repete o mesmo padrão: compra na alta, vende na baixa.
Já o investidor disciplinado entende que o mercado é cíclico.
Ele aceita momentos de queda, manchetes negativas e pessimismo generalizado. E justamente nesses momentos é que encontra as melhores oportunidades.
É preciso paciência para esperar o momento certo de agir, e disciplina para seguir sua estratégia mesmo quando parece que o mundo inteiro discorda de você.
A pergunta que vai te salvar
Na próxima vez que você sentir aquela urgência de entrar em um investimento apenas porque “todo mundo está comprando”, ou o impulso de sair de uma posição porque “não aguenta mais ver os números vermelhos na tela”, pare e se pergunte:
→ Estou tomando essa decisão baseado em fundamentos ou apenas seguindo minha emoção?
No fim, investir não é apenas uma questão de escolher quais ativos comprar. É uma batalha diária contra nós mesmos.
E quem vence essa batalha interna, geralmente vence também nos investimentos.
Gustavo Gubert, CFP®
Planejador Financeiro e Consultor de Investimentos





