
A rentabilidade da sua carteira é pior do que a de alguém que está morto. Não porque você é um investidor ruim, mas porque é um ser humano (e está vivo).
Em 2014, a corretora americana Fidelity queria descobrir o que os investidores com melhor desempenho estavam fazendo. Para isso, conduziu um estudo interno analisando o resultado dos seus clientes durante um período de 10 anos — entre 2003 e 2013.
O resultado foi surpreendente: os melhores investidores eram os que haviam falecido e, por isso, tiveram seus ativos congelados por questões judiciais.
Em segundo lugar, vinham os inativos — pessoas que simplesmente esqueceram que tinham investimentos na conta ou sua senha de acesso.
Esse resultado pode parecer estranho para você (quem sabe até um pouco engraçado), mas ele faz bastante sentido.
O motivo é muito simples: um investidor morto não comete erros.
Grande parte dos erros que os investidores cometem não tem relação com conhecimento ou experiência. São consequência de dois fatores: erros de comportamento e/ou pensamento de curto prazo.
O problema surge quando o investidor se desvia dos objetivos de longo prazo e se deixa levar pelo ruído do curto prazo.
Um dos mais comuns é entrar ou sair de algum investimento no pior momento possível. Abordei essa falha comportamental neste artigo sobre porque os investidores compram na alta e vendem na baixa.
Por isso, hoje vou focar no outro grande problema: o pensamento de curto prazo.
A Percepção do Tempo nos Investimentos
Einstein — ao menos uma frase atribuída a ele — já dizia: “Quando você se senta por duas horas com uma mulher bonita, parece que se passou um minuto. Mas quando você segura uma panela quente por um minuto, parece que são duas horas.”
Emprestando — talvez injustamente — a ideia da teoria da relatividade para o mundo dos investimentos, podemos dizer que: assim como o tempo parece passar diferente dependendo de cada observador e cada situação, um mesmo investimento pode parecer bom ou ruim dependendo do período analisado.
Um investidor que aplicou na bolsa americana em outubro de 2019 e mantém essa posição até hoje teve um retorno de mais de 170%. Se esse mesmo investidor tivesse vendido sua posição em março de 2020, após a pandemia do COVID, teria tido um prejuízo de aproximadamente 23%.
Nos últimos 5 anos o Bitcoin teve uma valorização de mais de 600%. De lá pra cá, contudo, já teve quedas de mais de 40% em maio de 2021 e junho de 2022, e outra mais recente em fevereiro de 2025, quando chegou a cair mais de 20%.
Não é uma coincidência. O “mercado” premia investidores com horizonte de longo prazo.
De acordo com um levantamento do Bank of America, se você investir por apenas 1 dia, a chance de você perder dinheiro é de 46%. Essa chance diminui para 25% caso você invista por 1 ano. Em cinco anos, caem para 10%. E, se você investir por 10 anos, sua chance de perder dinheiro é de apenas 6%.
Esses dados mostram que quanto maior o tempo investindo, menores são as chances de perder dinheiro.
Tolere o Curto Prazo, Desfrute no Longo Prazo
Essa conclusão não poderia ser diferente.
Uma empresa não gera lucro do dia para a noite. Um imóvel demora meses para ser construído antes de gerar renda. Ciclos econômicos duram anos. E, de tempos em tempos, uma crise se instala e afeta a economia — que precisa de tempo para se recuperar.
Investir e construir riqueza são processos de longo prazo. Não existem atalhos.
Acompanhar o gráfico de performance dos seus investimentos diariamente é como observar um monitor cardíaco — cheio de altos e baixos. No longo prazo, esses altos e baixos se transformam em uma curva serena e ascendente.

Performance de curto prazo vs. de longo prazo
Isso acontece porque, no curto prazo, fatos irrelevantes costumam aumentar de tamanho e de importância.
Uma notícia que de nada vai afetar o resultado de uma empresa, por exemplo, faz o preço da sua ação cair injustificadamente — antes de voltar a subir normalmente no dia seguinte.
Quem se deixou influenciar pela notícia e mudou seu foco do longo para o curto prazo, vendeu suas ações e perdeu dinheiro. Quem manteve o foco no longo prazo, talvez não tenha nem ficado sabendo da notícia.
Se você parar para pensar, é muito parecido com o que acontece nos relacionamentos.
Na convivência diária, uma toalha molhada em cima da cama às vezes parece motivo suficiente para iniciar uma guerra. No decorrer dos anos, você percebe que apesar de alguns períodos difíceis, o relacionamento ficou mais maduro e evoluiu.
Depois de décadas, aqueles momentos que pareciam o fim do mundo se tornam insignificantes perto de tudo que construíram juntos.
Três Dicas para Proteger sua Estratégia de Longo Prazo
Se você decidisse o futuro do seu relacionamento com base em alguns dias ruins, tenho certeza que ele não duraria muito tempo.
Assim como se você se deixar influenciar pelo “ruído” de curto prazo nos seus investimentos, o resultado que almeja nunca vai chegar.
As três dicas a seguir vão te ajudar a manter a calma e tomar boas decisões quando suas emoções estiverem à flor da pele.
🎯 Tenha clareza sobre seu objetivo de longo prazo
Ter um objetivo de longo prazo bem definido vai manter seu olhar voltado para o que realmente importa e evitar que tome decisões baseadas em ruídos de curto prazo.
Se você está investindo para ter uma renda de R$10 mil daqui a 15 anos, por exemplo, sabe que seu resultado vai depender dos seus aportes e da sua estratégia, e vai concentrar seus esforços nisso.
Dessa forma, não vai se deixar influenciar e cometer erros ao ser bombardeado por notícias e informações irrelevantes todos os dias.
Afinal, atingir seu objetivo é mais importante do que o noticiário do dia a dia.
💰 Tenha uma reserva de emergência sólida
Muita gente subestima a importância da Reserva de Emergência. Não faça o mesmo.
Sua reserva de emergência não serve apenas para que você tenha um dinheiro guardado para usar em imprevistos. Ela desempenha uma outra função, tão importante quanto: te dar a tranquilidade que você precisa para atingir seus objetivos de longo prazo.
Imagine ter 100% do seu patrimônio investido em ações e perder seu emprego durante um período de crise, como a pandemia do COVID, por exemplo. Você seria obrigado a vender sua posição (ou parte dela) em um péssimo momento — talvez até com prejuízo — o que adiaria seus planos de longo prazo. Sem falar em todo o estresse emocional que isso iria gerar.
Por outro lado, quando você sabe que tem um dinheiro guardado capaz de cobrir suas despesas por um bom período de tempo, você consegue passar pelas turbulências de curto prazo com mais tranquilidade e segurança. Não é qualquer notícia, boato ou ruído que vai tirar seu sono e, muito menos, adiar seus planos.
Sua reserva de emergência é não apenas um colchão de segurança financeira, mas também emocional.
Se não sabe como montar sua reserva de emergência, vai encontrar neste artigo tudo o que precisa saber.
📊 Não espere resultados de curto prazo para investimentos de longo prazo
Temos o péssimo hábito de avaliar nossos investimentos pelo resultado de curto prazo.
Quando sua carteira rende 110% do CDI no mês, você fica satisfeito. Quando seu resultado é de 97% do CDI, a primeira coisa que você faz é buscar explicações.
Não julgue a performance da sua carteira olhando o resultado “mês a mês”. Você deve avaliar a performance de cada investimento de acordo com o horizonte de tempo de cada um.
Faz sentido se preocupar quando sua reserva de emergência rende abaixo do CDI nos 6 últimos meses. O mesmo não se aplica quando está avaliando, por exemplo, o resultado de uma carteira de ações que você investe com o objetivo de atingir sua independência financeira daqui a 10 anos.
São investimentos distintos, com características e prazos diferentes e, portanto, precisam ser avaliados de forma diferente.
Você não deve ficar preocupado ou fazer alterações na sua carteira apenas porque um investimento que você faz para daqui a 10 anos rendeu menos que o CDI nos últimos dois meses.
Menos Intervenção, Mais Resultado
Investimentos de longo prazo precisam de tempo para gerar o resultado esperado. Ficar realizando ajustes a todo momento, baseados em decisões emocionais ou em “ruídos” de curto prazo só vão te atrapalhar.
Como o caso dos investidores da Fidelity nos ensinou, algumas vezes, quanto menos interferimos em nossos investimentos, melhor tende a ser o resultado.
Isso não significa que você deva esquecer seus investimentos e deixá-los de lado.
Apenas que deve se concentrar no seu objetivo de longo prazo, seguir sua estratégia, ter uma reserva de emergência sólida e entender que é natural que seus investimentos tenham altos e baixos ao longo do tempo.
Agora, se ainda não tem clareza sobre o seu objetivo de longo prazo ou qual estratégia é a melhor para você, talvez seja melhor também esquecer a senha da sua conta na corretora.
Gustavo Gubert, CFP®
Planejador Financeiro e Consultor de Investimentos na Union
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